quinta-feira, 23 de abril de 2009

Vai uma corridinha
Acordei num daqueles dias em que o mundo nos parece a maravilha das maravilhas, onde tudo é belo, naqueles que durante a noite nos colocam lentes de contacto que só deixam entrar coisas boas e somos capazes de resolver todos os problemas do mundo. Saí de casa para ler os jornais e as revistas do dia, estava uma manhã soalheira. Queria encontrar um local agradável e descobri uma esplanada calma, rodeada de um verde de relva regada recentemente e onde o cheiro de terra fresca se misturava com o do café da manhã, onde tudo combinava com os meus novos olhos. A leitura começa, na capa de um dos jornais, o Engenheiro José Sócrates de braços abertos, como se corresse para a meta, que imagem, o título dizia … Sócrates … Free… . Sócrates Free ? Esfrego os olhos e devo ter deslocado as tais lentes maravilhosas. O titulo era agora “Sócrates o principal suspeito no caso FreePort” e a imagem já me mostrava um Sócrates de braços no ar como um condenado que andava em passo rápido. Onde estava eu com a cabeça, o Engenheiro já não corre. Que saudades do jogging? Onde está o jogging? Só se fala no
Jobbing. Dantes onde quer que fosse, lá estava o par de calções e ténis na mala,

sempre pronto fazer com que jornalistas andassem por ali esbaforidos atrás dele,

agora nada, nem uma marcha, nada. Tenho uma teoria sobre os problemas de José

Sócrates, desde que deixou de correr que a sua vida ficou recheada de confusões

e polémicas com tanta coisa e tanta gente: a sua carreira académica, o Alegre, o

fumar nos aviões, o Alegre, o Freeport, o Alegre, e isto sem esquecer o Alegre,

o Vara, o Seguro, o Lello, o Constâncio, a Gomes, o Gama, neste último caso é

melhor colocar mais um nome não vá gerar confusão junto dos árbitros de futebol,
Jaime Gama.
O homem está mesmo cheio de problemas, sorte a dele que me apanhou no dia certo,
vou ajuda-lo. Este engenheiro não é como o outro, não é homem de ficar atolado no pântano a fazer contas de cabeça, eu acredito que ele consegue, vou
montar-lhe uma estratégia vencedora.
Sinto de tal maneira a falta de o ver em traje de desporto, e não sou só eu,
pois professores, agricultores, médicos, policias, juízes, em resumo, o país
inteiro anda em marchas na rua para incentiva-lo que ele marche dali para fora.
Estamos portanto todos juntos nisto. Para vencer as eleições legislativas com
maioria absoluta a próxima corridinha tem que ter a maior audiência de sempre,
ele tem que estar disposto a tudo, essa vai ser a corrida da vida dele, mas que
é difícil é.
Então vamos lá à estratégia: vamos seguir o exemplo de Luca Toni, avançado do
Bayern de Munique que prometeu que se ganhasse a Liga dos Campeões, correria nu
em Marienplatz [a praça central de Munique], assim promete-se, nesta minha
visão, descer a Av. Liberdade apenas com sapatilhas nos pés, a troco da maioria
absoluta, com isto temos resultado garantido. Se algo corresse mal nas urnas,
“pequenas coisas” poderiam afectar o esquema, com este plano existe sempre a
possibilidade de estabelecer algum acordo parlamentar pós eleitoral, talvez
Paulo Portas gostasse... da ideia, o Bloco e os Verdes apoiariam certamente esta
acção de liberdade individual, Alberto João Jardim já tinha ensaiado o mesmo na
Madeira, logo ficaria solidário, a única dúvida estaria na resistência da laca
de Manuela Ferreira Leite, e quantos cabelos ficariam em pé. Junto dos
movimentos de acção sindical, caso a descida ocorra a uma sexta-feira, seria de
certeza um dia de greve geral comemorativa, um novo conceito, mas um factor de
união entre os trabalhadores e o governo nesta marcha que seria assim conjunta.
Tudo está bem quando acaba bem, mais um problema resolvido, está garantida a
governabilidade socialista para a próxima legislatura.
Esfrego os olhos mais uma vez, acho que as lentes voltaram ao sítio certo, o
verde continua no horizonte, e aquele bom cheiro a terra, a esta nossa terra que
cheira bem, cheira a Portugal.